COMO SUA EMPRESA PODE AJUDAR NO COMBATE DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA?
A crise do COVID-19 apresentou mudanças em muitos números na vida dos brasileiros. Dentre eles, os das taxas de desemprego e de violência doméstica são alguns dos mais alarmantes e é sobre o segundo que iremos falar hoje.
Desde o início do isolamento social causado pela pandemia, lá em meados de março, muitas organizações já demonstravam preocupação com a relação entre essa medida e um possível aumento nos casos de violência doméstica. Infelizmente, foram necessárias apenas algumas semanas para que essa preocupação se confirmasse.
Alguns estados apresentaram aumentos bruscos em casos de crime contra a mulher em um período muito curto de tempo, comparado ao mesmo período do ano anterior. O Rio Grande do Norte é um exemplo negativo nesse sentido, por exemplo. Uma matéria publicada no jornal Tribuna do Norte em maio aponta que número de casos teve um aumento de 258,7% entre as datas de 12 de março a 18 de maio de 2020, comparado ao mesmo período no ano passado.
Já outros estados, como o Rio de Janeiro e São Paulo, também apresentaram crescimento de mais de 50% dos casos. Apesar desses números já serem altos, ainda existe a questão de subnotificações de casos, que podem acontecer por diversos fatores e acabam dificultando uma relação mais precisa de dados.
Diante de todas essas informações, você deve estar se pensando – Essa é uma situação horrível! Como a minha empresa pode ajudar no combate da violência doméstica? E é para isso que trouxemos esse assunto hoje.
Entenda os tipos de violência doméstica
Antes de pensar em qualquer solução, é muito importante entender de fato o problema. Isso porque, em casos onde não se tem clareza da gravidade da situação, uma ação que não seja muito estruturada pode trazer ainda mais dificuldades para as vítimas. Sendo assim, conheça e entenda os tipos de violência doméstica existentes.
A Lei Maria da Penha (Lei 11340/06), de 2006, prevê a existência de cinco tipos de violência doméstica e familiar contra as mulheres. Eles são:
Física
Qualquer ato que fira a integridade ou saúde corporal da mulher. Sendo assim, espancamento, chacoalhão, estrangulamento, ferimentos causados por queimaduras, arma de fogo ou objetos cortantes e torturas físicas, são exemplos de violência física. A violência física, quando não sofre intervenção, pode levar até à morte da vítima.
Psicológica
É qualquer comportamento que cause dano emocional e diminuição da autoestima da vítima, prejudique o desenvolvimento dela ou busque controlar seus comportamentos, por exemplo. Algumas representações desse tipo de violência são: cenas de humilhações, ameaças, manipulação, vigilância constante, constrangimento, insultos, entre outros.
Sexual
Qualquer atitude que intimide a vítima a presenciar, manter ou participar de uma relação sexual não desejada. O mais comum e falado nesse caso é o estupro, porém obrigar a vítima a realizar atos sexuais que causam desconforto, impedir o uso de métodos contraceptivos ou coagir a vítima para que realize um aborto em caso de gravidez, também são forma de violência sexual. Forçar o casamento, gravidez ou prostituição e limitar ou anular o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos de uma mulher também se enquadram nesse tipo de violência, por exemplo.
Patrimonial
Entende-se como violência patrimonial qualquer prática que retenha, subtraia ou destrua, parcial ou totalmente, os objetos da vítima. Sejam eles pessoais, documentos, instrumentos de trabalho, recursos econômicos ou outros. Alguns exemplos desses casos são: controlar o dinheiro da vítima, deixar de pagar pensão alimentícia, estelionato, privação de bens, valores ou recursos econômicos, causar danos propositais a objetos que pertencem a vítima, entre outros.
Moral
É considerada violência moral qualquer atitude que seja configurada como calúnia, difamação ou injúria contra a vítima. Sendo assim, expor a vida íntima da mulher, acusá-la de traição, fazer críticas mentirosas, desvalorizar a vítima pelo modo como ela se veste, entre outras ações, são exemplos de violência moral.
O Instituto Maria da Penha faz um trabalho muito importante informando a todos sobre o que é violência doméstica, como funciona o ciclo da violência e quais são os tipos de violência existentes, como explicamos acima. Vale a pena dar uma conferida para entender melhor.
Introduza o tema em sua empresa
Boa parte das empresas contam com canais para denúncias de casos éticos, de assédio moral ou até mesmo sexual, que possam acontecer em suas propriedades. Porém, ainda são poucas as que tem os olhos voltados para possíveis casos de violência doméstica que suas colaboradoras possam sofrer em casa.
Uma pesquisa realizada ano passado (2019) com 311 empresas pela Talense – empresa de consultoria de recrutamento especializado – aponta que apenas cerca de 25% das organizações monitoram e fazem algo a respeito sobre esses casos. Além disso, quando essas empresas foram questionadas o motivo de não mapearem e atuarem nos casos de funcionários que podem sofrer alguma violência doméstica, cerca de 33% delas afirmam que o tema não é prioritário dentro da agenda da organização, 12% sentem dificuldades de mensurar e controlar possíveis ocorrências e outros 12% dizem que falta apoio da liderança.
Sendo assim, é muito importante que, antes de criar ações mais específicas o tema seja introduzido em sua empresa de forma que ganhe o apoio fundamental da alta liderança. Esse primeiro momento pode acontecer através de rodas de conversa, palestras sobre o assunto ou até mesmo com a distribuição de materiais como cartilhas físicas e ebooks que falem sobre o tema.
Crie um canal de comunicação e atendimento qualificado e ofereça apoio
Após esse momento introdutório na empresa, principalmente com as lideranças, talvez seja a hora de criar ações mais específicas para conscientizar, mapear e tratar possíveis ocorrências. Grandes empresas como a Avon e a Magazine Luiza possuem casos de sucesso de como tratar essa questão no âmbito empresarial. Apesar de ambas terem desenvolvido seus programas depois de casos sofridos por suas colaboradoras – de violência doméstica seguidos de feminicídio – hoje elas são referências no assunto.
O ideal é que sua empresa crie um canal de comunicação sobre o assunto com processos estruturados, para que a vítima tenha o auxílio necessário. Dessa forma, a partir do momento que a mulher entende que está sofrendo uma violência doméstica – após as ações de conscientização – e decide denunciar, é preciso que tenham pessoas preparadas para ouvi-la.
Indicar pessoas que saibam praticar a escuta ativa para fazer parte dos canais de denuncia é essencial. Isso porque, para conseguir cessar os casos de violência doméstica, a vítima primeiro precisa ser ouvida sem julgamentos, para que depois a empresa ofereça auxílio de acordo com as necessidades dela.
Já nesse ponto, o auxílio pode vir de diversas formas. Algumas mulheres vão precisar de apoio psicológico, outras jurídicos, financeiro, ajuda para fazer a denuncia formal nos órgãos responsáveis, alguns dias de licença para se mudar se for o caso ou até mesmo precisar de suporte para ser transferida da sede da empresa, em casos mais graves, para que ela possa ficar longe do agressor.
O tema de violência doméstica é de fato muito delicado, mas exatamente por isso ele não deve ser negligenciado. Se a sua empresa quer prestar esse suporte as colaboradoras, mas não tem condições estruturais de arcar com um auxílio financeiro ou jurídico, por exemplo, caso exista uma ocorrência que necessite desse suporte dentro da empresa, que tal começar por ações menores? Promova palestras e rodas de conversas, ainda que digitais, para todos os colaboradores para gerar a conscientização sobre o assunto.
Lembre-se, pequenas ações promovem grandes mudanças e em briga de marido e mulher, devemos meter a colher sim, pois é um ato de cuidado e #CuidarÉColetivo.
Se você precisar denunciar um caso de violência doméstica, disque 180 gratuitamente.